Faz tempo que não escrevo, tá tudo tão corrido que eu não estou dando conta de tudo sabe?
Já faz dias que estou querendo
escrever sobre bater em filhos, já estava até tudo montado na minha cabeça mas
nunca dava tempo, mas aí rolou uma blogagem coletiva no último dia 19 sobre o
assunto, como eu estava viajando não consegui participar, então aproveitei o
ensejo para escrever o que eu já queria a algum tempo.
Como já disse no meu último post o
Júnior é uma criança que demanda bastante, tanto que já bati, nele e na
Bárbara, mas todas as vezes que isso acontecia eu me sentia mal, alguma coisa
gritava dentro de mim dizendo que não era por aí, até que um dia eu bati nele
porque ele bateu na Bárbara e enquanto eu dava as palmadas eu falava entre
dentes: NÃO PODE BATER!!! Eu me senti tão incoerente, tão estúpida...
Parei e fiquei pensando, não é por aí...
Pois bem, há mais ou menos uns dois meses o Júnior "endoidou", engraçado que ele estava super apegado a mim, carinhoso, me beijava a todo momento, super tranquilo, só que de repente... Começou a ficar nervoso, tudo contrariava, gritava, chorava, e eu perdida. Até que me apresentaram uma lista de discussão sobre educação de filhos de 0 a 10 anos, e lá fui eu desabafar os meus terrores com o Júnior. Estava muito confuso pra mim esse negócio de educação, autoridade, respeito, permissão...
Pois bem, há mais ou menos uns dois meses o Júnior "endoidou", engraçado que ele estava super apegado a mim, carinhoso, me beijava a todo momento, super tranquilo, só que de repente... Começou a ficar nervoso, tudo contrariava, gritava, chorava, e eu perdida. Até que me apresentaram uma lista de discussão sobre educação de filhos de 0 a 10 anos, e lá fui eu desabafar os meus terrores com o Júnior. Estava muito confuso pra mim esse negócio de educação, autoridade, respeito, permissão...
A sensação que eu tenho é que eu
joguei no chão tudo que eu acreditava até então e estou construindo uma nova
forma de ser, educar, agir, e por ser nova, eu ainda não sei o caminho a seguir, estou tateando no
escuro sabe?
O fato é que uma coisa ficou muito
clara pra mim, NUNCA MAIS LEVANTAREI A MÃO PARA MEUS FILHOS! Comecei a me
observar e percebi que toda vez que isso acontecia a coisa desandava de vez! Aí
que ele me enfrentava mesmo, gritava e vinha pra cima de mim como se quisesse
dizer com seus olhinhos arregalados: eu preciso muito mais do que uns tapas,
comigo não vai funcionar!
Conversar com outras mães que
pensam da mesma forma foi muito esclarecedor, pois saíram verdadeiras pérolas
nessa discussão que me fizeram pensar profundamente sobre o assunto, olhar pra
mim, para os meus preconceitos, para a minha vaidade e sobretudo para o meu
filho, entendendo que ele é um SER HUMANO, com defeitos e qualidade como
qualquer um, só que ele só tem 2 anos e meio, se pra mim que tenho 32 é tão
difícil lidar com certos sentimentos, porque exigir que ele aprenda a força a
lidar com os seus?
Vale a pena transcrever aqui
algumas coisas que foram ditas:
"A minha única pergunta (isso mesmo, mais uma para um
montão das suas) é por que a criança tem de respeitar o outro sem ter sido
respeitada?
Para refletirmos, mesmo. Por que eu insisto em querer que
meu filho saia por aí respeitando todo mundo se nem sempre ele é respeitado? E
por que parto do princípio de que ele deve me respeitar só porque eu sou mãe?
Eu acho bacana uma criança educadinha, que respeite regras,
a tudo e a todos, mas a que preço essa criança faz isso?"
"... as regras só fazem sentido se forem
compreendidas, então é bom explicar sempre o porquê de cada coisa. Tenta trocar
uma proibição por uma permissão. Ao invés de dizer não faça isso com a pasta
(de dente) vc talvez possa falar vamos tampar a pasta e coloca-la no
lugar?"
"primeiro, concordo com o que as meninas disseram, que
o respeito é uma via de mão dupla, da mesma forma que a gente exige o respeito
dos filhos, a gente tem que respeitá-los tb, até pra eles aprenderem isso pra
vida.
segundo, a nossa geração ainda confunde muito respeito com
imposição pelo medo.
que é o que se faz qdo se bate na criança pra ela aprender
o "lugar" dela.
e sei que é bem difícil a gente quebrar o padrão, pq exige
uma mudança de paradigma, exige tudo aquilo que vc colocou no seu último email,
exige uma dose redobrada de paciência.
e é duro.
é bem difícil."
"...acredito, não, fui obrigada a me render à
evidência - de que a rigidez não educa.
se você tem um filho renitente, um filho que desconhece a
figura da
autoridade, um filho que só admite a violência como forma de
ser
contido, e se você usa da violência, você não está tornando
ele uma
pessoa melhor, você está meramente o contendo, entende?
E o que vai acontecer quando ele for grande e você não puder
mais
conter?
Porque não se trata aqui de resolver a birra do meu filho, ou
do seu,
mas se trata de aproveitar todo e qualquer momento bom ou
ruim para
fazer dos nossos filhos as melhores pessoas que você puder
fazer.
E, pra fazer isso, do que a gente não precisa? primeiro, do
adestramento:
o filho não tem que não bater na mãe porque ele sabe que ela
bate mais
forte, mas porque ele a ama e é totalmente agressivo pra ele
bater na
própria mãe!
Meu filho não precisa aprender submissão, mas precisa
aprender a
confiar nas pessoas que o amam e a acalmar esse torvelinho
que existe
dentro dele; ele não precisa aprender subserviência, mas a
sentir no
seu coração um respeito e gratidão tão grande pelas pessoas
que o
amam, que o respeito flua de dentro dele, não porque ele vai
apanhar
se não responder "sim, senhora" pra mim."
Deu pra sacar a grandiosidade que foi essa conversa?
Gente, essa coisa de trocar uma proibição por uma permissão funcionou de uma maneira espetacular, logo em seguida de toda essa conversa na lista, o Júnior teve um stress com a Bárbara, imediatamente parei tudo que estava fazendo e falei: VAMOS BRINCAR DE ESCONDE, ESCONDE? Ele deu pra Bá o que ele não queria dar e ficamos nos escondendo pela casa por volta de uns 10min., pra ele foi uma alegria sem fim, terminou a brincadeira rindo gostoso e sem stress nenhum!
O fato é que tudo isso me deu muita força pra entender o
Júnior como um ser humano além de mim e que o meu papel é conduzí-lo da melhor
forma possível, tentando tirar dele o que ele tem de melhor e ajudando-o a
trabalhar o que não é tão bom assim, afinal, ele vai levar o que aprender para
o mundo, para a sociedade que ele estará inserido, para o seu futuro lar, para
seus filhos, para seu emprego, enfim... Estou preparando um ser humano para o
futuro e isso cada vez mais fica forte dentro de mim, me dá uma dimensão de
responsabilidade sem igual.
Bater, impor, gritar, colocá-lo de castigo à força só vai
adestrá-lo e eu não quero um ser humano adestrado, eu quero um ser humano
pleno, feliz e consciente! Quero que ele me respeite por amor, que aprenda
com meus exemplos e não que ele sinta medo de mim!
Ainda depois de toda essa conversa passamos por um stress
novamente, a Bá estava pintando no sofá, ele foi lá tirou o lápis da mão dela e
ainda bateu nela, peguei-o no colo e fui conversando sobre não poder bater, que
ele podia fazer carinho na Bá porque era mais gostoso, que a Bá era a irmãzinha
querida dele que sempre brincava com ele enfim, fui conversando sem levantar o
tom de voz, o que é inédito pra mim, no meio da conversa ele olhou bem pra
minha cara e me deu um murro.
Respira, respira, respira!!!
Pus ele no chão e olhando bem nos olhinhos dele disse: filho,
não pode bater, a mamãe nunca mais vai bater em você, porque bater é feio, é ruim,
a mamãe te ama e agora eu estou triste...
Sentei na
mesa e continuei tomando o meu café, ele ficou quietinho, a Bárbara chamou ele
e disse, vamos escolher um DVD pra gente assistir, vem cá que eu deixo você
escolher (tenho que mencionar que a Bárbara é um espetáculo a parte né? Ela
quis fazer algo pra ajudar, do alto dos seus 6 anos de idade), então ele foi,
escolheu o DVD, eles sentaram no sofá e passado alguns minutos ele veio de
mansinho no meu colo, olhou bem nos meus olhos e falou baixinho: dicupa mamãe!
Me abraçou, se aninhou um pouco e voltou ao DVD!
Com tudo
isso percebi que o que temos que ter é disponibilidade, todas às vezes que o stress
se instalou eu não estava disponível, eu não estava disposta, eu estava mais
preocupada com a janta, com a roupa, ou com qualquer outra coisa e não parei
pra escutar, pra escutar o momento, pra pensar profundamente no que eu poderia
fazer pra resolver a situação de uma maneira serena.
E pra aquelas frases que dão preguiça:
"Eu apanhei e sobrevivi" ou "Melhor educar agora do que deixar a polícia educar depois" (algo assim), eu deixo outras duas frases, que também foram ditas na lista:
"veja que eles não dizem: eu apanhei e fui feliz!.. mas eu apanhei e
sobrevivi. isso é legal quando vc fala da participação em uma
guerra,
mas da interação em seu próprio lar?"
"saber que tem gente adestrando cachorro e cavalo sem
chicote, sem
pancada... caramba, será que eu sou uma mãe pior que
domador de
animais? "
Eu teria muito mais pra falar, mas findo por aqui, sem
nenhuma receita de bolo do que eu devo fazer na edução dos meus filhos, mas
muito certa do que eu NÃO QUERO fazer, e com certeza uma delas é voltar a
bater!
Muitos blogs falaram do assunto, muita coisa boa de se ler,
repensar, reconstruir, mas vou citar dois aqui que abrirão o leque para outros,
permitão-se, vale a pena!
Guerra ou Paz - Esse é outro blog que também fala de violência, não
necessariamente dessa violência que estamos falando aqui, um pouco mais
abrangente mas que culmina na violência que estamos vivendo hoje na cidade de
São Paulo e sobre os nossos sentimentos diante de tudo que está acontecendo. Aí eu
deixo uma pergunta: será que esses seres humanos que estão em guerra com a
polícia apanharam quando criança? Sim ou não?