sexta-feira, 23 de novembro de 2012

POSTAGEM COLETIVA - 19/11 - Dia Mundial pela Prevenção da Violência Doméstica contra a Criança




Faz tempo que não escrevo, tá tudo tão corrido que eu não estou dando conta de tudo sabe?
Já faz dias que estou querendo escrever sobre bater em filhos, já estava até tudo montado na minha cabeça mas nunca dava tempo, mas aí rolou uma blogagem coletiva no último dia 19 sobre o assunto, como eu estava viajando não consegui participar, então aproveitei o ensejo para escrever o que eu já queria a algum tempo.
Como já disse no meu último post o Júnior é uma criança que demanda bastante, tanto que já bati, nele e na Bárbara, mas todas as vezes que isso acontecia eu me sentia mal, alguma coisa gritava dentro de mim dizendo que não era por aí, até que um dia eu bati nele porque ele bateu na Bárbara e enquanto eu dava as palmadas eu falava entre dentes: NÃO PODE BATER!!! Eu me senti tão incoerente, tão estúpida... Parei e fiquei pensando, não é por aí...
Pois bem, há mais ou menos uns dois meses o Júnior "endoidou", engraçado que ele estava super apegado a mim, carinhoso, me beijava a todo momento, super tranquilo, só que de repente... Começou a ficar nervoso, tudo contrariava, gritava, chorava, e eu perdida. Até que me apresentaram uma lista de discussão sobre educação de filhos de 0 a 10 anos, e lá fui eu desabafar os meus terrores com o Júnior. Estava muito confuso pra mim esse negócio de educação, autoridade, respeito, permissão...
A sensação que eu tenho é que eu joguei no chão tudo que eu acreditava até então e estou construindo uma nova forma de ser, educar, agir, e por ser nova, eu ainda não sei o caminho a seguir, estou tateando no escuro sabe?
O fato é que uma coisa ficou muito clara pra mim, NUNCA MAIS LEVANTAREI A MÃO PARA MEUS FILHOS! Comecei a me observar e percebi que toda vez que isso acontecia a coisa desandava de vez! Aí que ele me enfrentava mesmo, gritava e vinha pra cima de mim como se quisesse dizer com seus olhinhos arregalados: eu preciso muito mais do que uns tapas, comigo não vai funcionar!
Conversar com outras mães que pensam da mesma forma foi muito esclarecedor, pois saíram verdadeiras pérolas nessa discussão que me fizeram pensar profundamente sobre o assunto, olhar pra mim, para os meus preconceitos, para a minha vaidade e sobretudo para o meu filho, entendendo que ele é um SER HUMANO, com defeitos e qualidade como qualquer um, só que ele só tem 2 anos e meio, se pra mim que tenho 32 é tão difícil lidar com certos sentimentos, porque exigir que ele aprenda a força a lidar com os seus?
Vale a pena transcrever aqui algumas coisas que foram ditas:



"A minha única pergunta (isso mesmo, mais uma para um montão das suas) é por que a criança tem de respeitar o outro sem ter sido respeitada?
Para refletirmos, mesmo. Por que eu insisto em querer que meu filho saia por aí respeitando todo mundo se nem sempre ele é respeitado? E por que parto do princípio de que ele deve me respeitar só porque eu sou mãe?
Eu acho bacana uma criança educadinha, que respeite regras, a tudo e a todos, mas a que preço essa criança faz isso?"

"...  as regras só fazem sentido se forem compreendidas, então é bom explicar sempre o porquê de cada coisa. Tenta trocar uma proibição por uma permissão. Ao invés de dizer não faça isso com a pasta (de dente) vc talvez possa falar vamos tampar a pasta e coloca-la no lugar?"



"primeiro, concordo com o que as meninas disseram, que o respeito é uma via de mão dupla, da mesma forma que a gente exige o respeito dos filhos, a gente tem que respeitá-los tb, até pra eles aprenderem isso pra vida.
segundo, a nossa geração ainda confunde muito respeito com imposição pelo medo.
que é o que se faz qdo se bate na criança pra ela aprender o "lugar" dela.
e sei que é bem difícil a gente quebrar o padrão, pq exige uma mudança de paradigma, exige tudo aquilo que vc colocou no seu último email, exige uma dose redobrada de paciência.
e é duro.
é bem difícil."

"...acredito, não, fui obrigada a me render à
evidência - de que a rigidez não educa.
se você tem um filho renitente, um filho que desconhece a figura da
autoridade, um filho que só admite a violência como forma de ser
contido, e se você usa da violência, você não está tornando ele uma
pessoa melhor, você está meramente o contendo, entende?
E o que vai acontecer quando ele for grande e você não puder mais
conter? 
Porque não se trata aqui de resolver a birra do meu filho, ou do seu,
mas se trata de aproveitar todo e qualquer momento bom ou ruim para
fazer dos nossos filhos as melhores pessoas que você puder fazer.
E, pra fazer isso, do que a gente não precisa? primeiro, do adestramento:
o filho não tem que não bater na mãe porque ele sabe que ela bate mais
forte, mas porque ele a ama e é totalmente agressivo pra ele bater na
própria mãe!
Meu filho não precisa aprender submissão, mas precisa aprender a
confiar nas pessoas que o amam e a acalmar esse torvelinho que existe
dentro dele; ele não precisa aprender subserviência, mas a sentir no
seu coração um respeito e gratidão tão grande pelas pessoas que o
amam, que o respeito flua de dentro dele, não porque ele vai apanhar
se não responder "sim, senhora" pra mim."

Deu pra sacar a grandiosidade que foi essa conversa? 

Gente, essa coisa de trocar uma proibição por uma permissão funcionou de uma maneira espetacular, logo em seguida de toda essa conversa na lista, o Júnior teve um stress com a Bárbara, imediatamente parei tudo que estava fazendo e falei: VAMOS BRINCAR DE ESCONDE, ESCONDE? Ele deu pra Bá o que ele não queria dar e ficamos nos escondendo pela casa por volta de uns 10min., pra ele foi uma alegria sem fim, terminou a brincadeira rindo gostoso e sem stress nenhum!
O fato é que tudo isso me deu muita força pra entender o Júnior como um ser humano além de mim e que o meu papel é conduzí-lo da melhor forma possível, tentando tirar dele o que ele tem de melhor e ajudando-o a trabalhar o que não é tão bom assim, afinal, ele vai levar o que aprender para o mundo, para a sociedade que ele estará inserido, para o seu futuro lar, para seus filhos, para seu emprego, enfim... Estou preparando um ser humano para o futuro e isso cada vez mais fica forte dentro de mim, me dá uma dimensão de responsabilidade sem igual.
Bater, impor, gritar, colocá-lo de castigo à força só vai adestrá-lo e eu não quero um ser humano adestrado, eu quero um ser humano pleno, feliz e consciente! Quero que ele me respeite por amor, que aprenda com meus exemplos e não que ele sinta medo de mim!
Ainda depois de toda essa conversa passamos por um stress novamente, a Bá estava pintando no sofá, ele foi lá tirou o lápis da mão dela e ainda bateu nela, peguei-o no colo e fui conversando sobre não poder bater, que ele podia fazer carinho na Bá porque era mais gostoso, que a Bá era a irmãzinha querida dele que sempre brincava com ele enfim, fui conversando sem levantar o tom de voz, o que é inédito pra mim, no meio da conversa ele olhou bem pra minha cara e me deu um murro.
Respira, respira, respira!!!
Pus ele no chão e olhando bem nos olhinhos dele disse: filho, não pode bater, a mamãe nunca mais vai bater em você, porque bater é feio, é ruim, a mamãe te ama e agora eu estou triste...
Sentei na mesa e continuei tomando o meu café, ele ficou quietinho, a Bárbara chamou ele e disse, vamos escolher um DVD pra gente assistir, vem cá que eu deixo você escolher (tenho que mencionar que a Bárbara é um espetáculo a parte né? Ela quis fazer algo pra ajudar, do alto dos seus 6 anos de idade), então ele foi, escolheu o DVD, eles sentaram no sofá e passado alguns minutos ele veio de mansinho no meu colo, olhou bem nos meus olhos e falou baixinho: dicupa mamãe! Me abraçou, se aninhou um pouco e voltou ao DVD!
Com tudo isso percebi que o que temos que ter é disponibilidade, todas às vezes que o stress se instalou eu não estava disponível, eu não estava disposta, eu estava mais preocupada com a janta, com a roupa, ou com qualquer outra coisa e não parei pra escutar, pra escutar o momento, pra pensar profundamente no que eu poderia fazer pra resolver a situação de uma maneira serena.

E pra aquelas frases que dão preguiça:

"Eu apanhei e sobrevivi" ou "Melhor educar agora do que deixar a polícia educar depois" (algo assim), eu deixo outras duas frases, que também foram ditas na lista:


"veja que eles não dizem: eu apanhei e fui feliz!.. mas eu apanhei e
sobrevivi. isso é legal quando vc fala da participação em uma guerra,
mas da interação em seu próprio lar?"

"saber que tem gente adestrando cachorro e cavalo sem chicote, sem
pancada... caramba, será que eu sou uma mãe pior que domador de
animais? "

Eu teria muito mais pra falar, mas findo por aqui, sem nenhuma receita de bolo do que eu devo fazer na edução dos meus filhos, mas muito certa do que eu NÃO QUERO fazer, e com certeza uma delas é voltar a bater!

Muitos blogs falaram do assunto, muita coisa boa de se ler, repensar, reconstruir, mas vou citar dois aqui que abrirão o leque para outros, permitão-se, vale a pena!


Guerra ou Paz - Esse é outro blog que também fala de violência, não necessariamente dessa violência que estamos falando aqui, um pouco mais abrangente mas que culmina na violência que estamos vivendo hoje na cidade de São Paulo e sobre os nossos sentimentos diante de tudo que está acontecendo. Aí eu deixo uma pergunta: será que esses seres humanos que estão em guerra com a polícia apanharam quando criança? Sim ou não?