quarta-feira, 19 de junho de 2013

Meu primeiro relato de parto como doula.



Há uma semana participei do meu primeiro parto, a correria foi tanta de lá pra cá que eu realmente não tive tempo de relatar como tudo aconteceu, mas cá estou e vamos lá!
Conheci a Tamirez na Casa da Borboleta numa palestra que o Dr. Bráulio Zorzella veio dar, ela estava com 30 semanas aproximadamente, estava acompanhada de seu marido Gustavo e de seu filho lindo e comunicativo Samuel.
Quando a palestra terminou ficamos todos batendo um papo no buffet da Reila e comendo seus pães maravilhosos, então ela falou que o Samuel tinha nascido na Casa de Parto de Sapopemba e que ela não teve doula, mas que ela estava tão distante de todo esse assunto sobre humanização que ela achava que ia precisar de uma doula pra ajudá-la a se aproximar de tudo isso. A conversa foi curta, mas eu me disponibilizei para ser sua doula voluntariamente, uma vez que eu ainda não tinha acompanhado parto nenhum seria bom pra ela e pra mim, ela então disse que ia pensar, ok!
No dia seguinte adicionei ela no FB e aguardei. Ela me aceitou mas não fez nenhum comentário, então esperei mais umas 2 semanas e mandei uma mensagem pra ela me colocando a disposição e passei todos meus contatos. Então ela me respondeu:
"Oi Michele!!!
Não esqueci de vc, é que ainda estou um pouco confusa quanto a isso. Eu queria saber como aconteceria os encontros, se vc já tem algo planejado. Já estou de 32 semanas e continuo sem saber o q fazer da minha vida, rssss. Hoje estou um pouco corrida, mas quero pensar e conversar contigo sim. Bjs!"
Enfim, depois disso nos falamos por telefone e marquei uma visita na casa dela que durou 4 horas, rsss...
Na realidade os conflitos que envolviam a Tamirez não era em relação aos procedimentos do parto e sim o vínculo que ela não estava conseguindo construir com a Isadora, devido a grande quantidade de obstáculos ocorridos na gravidez.
Nessas 4 horas conversamos bastante (não poderia ser diferente comigo né? rsss... eita mulé que fala!), senti que foi muito bom, me abri, falei de mim, da minha vida, ela falou da dela, dos seus conflitos, dos seus medos... Acredito mesmo que pra doular alguém essa pessoa tem que se sentir confortável comigo, saber quem eu sou, criar vínculo, afinal, esse é um momento muito importante, se não o mais importante da vida de uma mulher, como compartilhá-lo com uma pessoa que você não se sente à vontade? Como deixar uma pessoa colocar a mão em você, te ver parir, totalmente despida de qualquer pudor vigente na sociedade, se você não a conhece, não sabe o que ela pensa, quem ela é? Pra mim, Michele Aquino, isso faz total sentido, pode ser que no decorrer da minha caminhada eu encontre pessoas que não se importem tanto com isso e por mim tudo bem, mas pelo menos nesse caso eu senti que ela precisava saber quem eu era, no que eu acredito, quais caminho sigo para que pudesse se sentir à vontade.
Ela achava que eu ia ficar uma horinha só e eu dediquei toda a minha tarde pra ela, com muito carinho eu estava ali, de corpo e alma pra entender e poder ajudar.
Depois disso, no meio da semana que se seguiu, nos falamos por telefone por quase 2 horas, ela estava com dúvidas sobre ter na Casa do Parto. Os procedimentos com o bebê, que são protocolo da Casa não a agradavam e as possíveis intervenções também a deixaram insegura.
Chegamos num momento em que ela tinha duas opções, tentasse o convênio e aí nós já sabíamos o desfecho dessa história:  CESÁREA! Ou encarasse dos males o menor e foi o que ela escolheu.
Na segunda-feira dia 10/06 tivemos nosso último encontro antes do parto na Casa da Borboleta, ela estava bem mais tranquila, já tinha se decidido sobre a Casa do Parto, já tinha começado a sentir algumas contrações e tudo estava correndo bem. Ao longo da nossa conversa a Reila (responsável pela Casa da Borboleta) falou:
- Nossa, como você está bem, estou vendo que você está bem mais tranquila, mais serena do que da última vez que conversamos.
Ao que a Tamirez respondeu:
- É o que essa mulher tá fazendo na minha vida! (Se referindo a mim)
Fiquei tão emocionada, tão feliz! Claro que o ego leva uma massageada, mas o que mais me deixou feliz foi saber que eu estava conseguindo cumprir bem o que me propus e que eu estava fazendo bem para outra pessoa, isso me deu uma satisfação que dinheiro nenhum no mundo pode comprar!
Na terça-feira lá pelas 21:30 a Tamirez me liga pra falar que as contrações estavam ficando um pouco mais fortes mas ainda estavam descompassadas, foi um aviso pra eu ficar em stand by. Detalhe, Júnior começava com uma falta de ar louca, tanto que antes das 22:00 já estava dormindo, tamanho o cansaço, já tinha feito inalação e aguardei.
Terminei de fazer as coisas que precisava em casa, todos foram dormir e eu fui tomar banho, caía uma garoa fina lá fora, estava bem frio e o Júnior com a respiração péssima dormindo na minha cama, nessa hora senti um aperto no coração, elevei meus pensamentos e fiz uma prece, pedindo para que a Tamirez não entrasse em trabalho de parto de madrugada, pois eu teria que deixar meu filho que começava a ficar mal e não tinha certeza se eu tinha peito pra fazer isso...
Eram 11:40 quando fiz outra inalação no Júnior e então dormi até 01:15 quando acordei com a respiração dele novamente, então não consegui dormir mais, quando foi 01:40 fiz outra inalação e ele acordou ligadão, falando mais que a boca, quando foi 02:00 a Tamirez ligou.
Na realidade podíamos ter esperado mais, no entanto minha pouca experiência fez com que eu dissesse a ela que fôssemos pra Casa do Parto, as contrações ainda não estavam ritmadas, mas ela dizia que estavam mais fortes e ela já tinha ido no banheiro duas vezes, pensei logo na minha irmã que passou exatamente por esse processo, foi pra Casa de Parto e depois de 20min. que ela chegou lá minha sobrinha nasceu, como a Tamirez mora em Artur Alvim fiquei com medo, apesar de ser de madrugada, de não dar tempo.
Respirei fundo, tirei meu pijama, pedi para o meu marido colocar o caminho no GPS (já fui pra Casa de Parto inúmeras vezes, mas sou a pessoa mais perdida da face da Terra), vale dizer que meu marido foi um fofo, por um momento fiquei apreensiva com a opinião dele, mas ele me apoiou, como sempre! Ficou com o Júnior que ainda estava cansado mas estava bem e eu fui!
Enquanto o portão da minha garagem subia foi me dando um frio na barriga, aquela garoa fina, aquelas ruas desertas e eu que nunca andei de carro de madrugada sozinha estava ali, prestes a sair, preocupada com meu filho e prestes a encarar meu primeiro parto. Mais uma vez elevei meus pensamentos e pedi proteção para que tudo corresse bem. Me deu uma força do além e fui!
Na Casa do Parto a Tamirez foi examinada e como era de se esperar ainda estava muito cedo, então decidimos voltar.
Cheguei em casa e o Júnior ainda estava acordado, creio eu que toda a minha ansiedade se manifestou nele, por isso o chiado, por isso ele acordar e não dormir, enfim... Quando cheguei ele perguntou: mamãe o bebê naxeu? Não meu filho, ainda não...
Fiz um chá pra acalmá-lo e a mim também e fomos dormir, dormi das 04:00 da manhã até às 06:00 quando o despertador tocou, levantei, tomei banho, troquei as crianças e quando fui pegar minha bolsa o Gustavo (marido da Tamirez) me liga falando que eles já estavam na Casa de Parto e que ela já estava internada. Levei o Jú pra creche, deixei a Babi na minha mãe (fiquei com medo do trabalho de parto demorar e não ter ninguém pra pegar a Bá na escola 12:00hs) e fui.
Cheguei lá ela estava no chuveiro, o Gustavo a estava amparando, totalmente conectado com o momento. Lindo de ver, lindo!
Ela já estava com 5 cm. de dilatação quando a Maria Cristina, enfermeira obstetra da Casa do Parto, foi examiná-la. A essa altura eram umas 09:00hs da manhã e ela estava com 6cm, mas as contrações não eram muito eficazes, então a Maria Cristina achou melhor que ela se movimentasse ao invés de ficar na água quente. A Tamirez preferiu ficar deitada, de um lado eu do outro o Gustavo, formamos um círculo alí tão envolvido, tão conectado que mais parecia uma orquestra, cada um sabia o momento de tocar seu instrumento...
Quando as contrações vinham ela pedia que eu a ajudasse a visualizar a Isadora, falando dela, como estava perto sua chegada, como ela estava sendo forte, o Gustavo estava totalmente interiorizado junto com ela, falava manso em seu ouvido que ela precisava ficar consciente, que a força dela estava na mente dela e que ela tinha domínio sobre seu corpo.
Quando essa mulher, guerreira e maravilhosa chegou aos 8cm de dilatação, a interiorização dela era tão grande que ela nem gemia, balançava a cabeça lentamente, quando abria os olhos dava pra perceber que ela estava na partolândia, pois seu estado de consciência estava alterado, mas ela estava mergulhada dentro dela mesma e nesse momento o silêncio era fundamental.
Até que veio aquele puxo involuntário e ela falou entre dentes: vai nascerrrrrgrrrrr!!!
Chamei a Maria Cristina e ela veio ver, de fato o bebê estava descendo, estava ali!
A Maria Cristina tirou uma parte da cama e a Tamirez apoiou os pés no estribo (acho que é esse o nome), levantou mais a cama e ela ficou quase sentada, e então começou o expulsivo, que durou cerca de umas meia hora. Nesse momento eu peguei a máquina do pai e fui tirar fotos pois ele estava muito envolvido pra pensar nisso (constatei que eu preciso de um curso de fotos para parto, rsss...), a outra aux. de enfermagem foi ajudar a segurar as pernas da Tamirez porque ela escorregava na cama, o Gustavo segurava na mão dela e eu esperando aquela cabecinha cabeluda que saía e voltava a cada contração.
Por fim a Isadora nasceu, foi direto para o colo da Tamirez, que chorou muito e a primeira coisa que disse foi: perdão minha filha por esses 9 meses, a mamãe te ama, a mamãe te ama!
O pai chorava e falava: é a nossa princesa!
Eu?
Chorando também, claro!
O cordão só foi cortado depois que parou de pulsar, a Isadora ficou mais alguns minutos ali no colinho da Tamirez, até parar de chorar e a aux. de enfermagem a levou para os procedimentos, o pai foi junto pra acompanhar e eu fiquei ali do lado da Tamirez esperando o final da sutura, foi uma laceração pequena de 2º grau.
Enquanto a Maria Cristina suturava a Tamirez falava: eu tive um parto natural? Sim Tamirez, você teve um parto natural, sem nenhuma intervenção, nada!
- Não acredito meu Deus, eu consegui!!!
Após a sutura dei um grande abraço nela, ela me disse que minhas palavras foram muito importantes para que ela se sentisse forte pra chegar até o fim! Me emocionei muito.
Depois disso passei na salinha pra ver a Isadora, dei um grande abraço no pai que correspondeu emocionado, peguei minha bolsa e fui...
Enquanto dirigia pensava como tudo é perfeito, a Tamirez teve problemas pra criar vínculo com a Isadora durante a gestação, nem conversar com ela conseguia e como ela mesma disse pra mim, havia momentos em que parecia nem estar grávida. O trabalho de parto foi a união das duas, um trabalho em conjunto que fez com que elas resolvessem ali qualquer pendência e o amor explodiu assim que a Tamirez a pegou no colo.
Conversando com uma mãe que passou por uma cesária, no grupo de apoio a gestantes de São Matheus, ela me dizia que foi difícil construir um vínculo com o filho dela. Após a cesárea quando o trouxeram pra ela, ela se sentia estranha, era como se tivessem pego um bebê e colocado no colo dela, não o filho dela. Ela disse que levou alguns dias pra que ela sentisse aquele amor, aquele enternecimento...
Então fiquei pensando se a Tamirez tivesse passado por uma cesárea, já tendo alguns contratempos na gestação e não conseguindo criar esse vínculo com a Isadora, pois é... O parto é algo lindo mesmo! Muito além do que dar a luz, tudo que está por trás de um parto é muito grande, é muito profundo!
Lamento pelas mulheres que abdicam desse momento para não sentir dor. A dor é tão pequena diante de tudo que o parto trás, diante da força e do poder que uma mulher tem quando pari!
Vale falar aqui também sobre o pai, que foi um doulo! Super envolvido no trabalho de parto desde o começo até o fim, totalmente conectado com a Tamirez, meu eterno respeito e admiração a esse pai!
A Isadora é linda, claro!
Dessa história nasceu muito mais do que uma mãe de 2, forte e segura de suas escolhas, um pai totalmente envolvido e apaixonado pela sua família e um irmãozinho feliz com sua irmã, nasceu minha primeira doulagem, a primeira de muitas que virão! Nasceu uma amizade recíproca recheada de muito carinho e respeito!
Obrigada Tamirez por me deixar fazer parte de tudo isso, foi um privilégio acompanhar você! Se eu conseguir ter o terceirinho é em sua força que vou me espelhar!
GRATIDÃO!