quinta-feira, 16 de agosto de 2012


BC: Porquê sou ativista da amamentação?

Bom, o segundo post do meu blog recém-nascido, é uma blogagem coletiva (a primeira de muitas que participarei), sobre o tema amamentação, proposto pelo blog Desabafo de mãe, após a semana mundial do aleitamento materno.
Complicado pra eu falar de amamentação sabe? Tenho dois anjos ofertados por Deus, Bárbara de 5 anos e Júnior de 2 anos. Na época em que Babi nasceu eu não fazia a mais pálida ideia do que significa maternidade consciente e afins (na realidade até pouquíssimo tempo isso era assunto novo pra mim), não tinha o hábito de pesquisar e a impressão que eu tenho hoje é que eu estava alienada do mundo quando meus filhos nasceram, parece que agora minha consciência grita a todo minuto! Essa pequena introdução é para que entendam o que está por vir... Não amamentei! Tá, se é que se pode dizer que eu amamentei, foram apenas 4 míseros meses a Babi e 1 mês o Júnior. Como assim??? Eu explico...
Babi nasceu de um parto normal em uma Casa de Parto, eu não tinha conhecimento a respeito como tenho hoje, mas dentro de mim algo gritava dizendo que era o mais correto a fazer: ter um parto normal. Babi demorou 1 dia inteiro pra mamar, eu fiquei 1 dia a mais na Casa de Parto porque ela não mamava, simplesmente não procurava meu seio, dormia o tempo todo e quando eu oferecia ela não pegava, simples assim... Não foi oferecido água glicosada e nem leite artificial, as aux. de enfermagem entravam de quando em quando no quarto e me ajudavam muito, me incentivavam, colocavam a Bárbara no seio, me ensinavam como tinha que ser a pega, com toda a paciência do mundo, até que o negócio foi acontecendo...
Fui pra casa e um misto de alegria e depressão tomou conta de mim, acho que com a maioria das mães acontece isso... Uma tristeza, uma sensação de impotência, chorava o tempo todo e oferecia o peito pra Babi toda vez que ela solicitava, mas em 80% das vezes ela dormia e só fazia de chupeta. Com 15 dias de vida fomos a sua primeira consulta ao pediatra e a instrução foi: Peito de 3 em 3 horas, pois ela não está ganhando peso, daqui uma semana volte. Voltei e nada de peso, então a recomendação foi entrar com o leite artificial, primeiro peito e depois mamadeira.
Mesmo com todos os poros do meu corpo dizendo que não, eu fiz exatamente o que a médica mandou, pois tinha medo de fazer algo errado, afinal ela era médica e sabia o que estava falando.
Não procurei outra opinião, não procurei ajuda (nem imaginava que tinha grupos de apoio à amamentação) e a minha maior frustração foi não ter amamentado como eu sempre sonhei.
Ta ok, então veio o Júnior e tudo seria diferente, a teoria era de que a Bárbara não tinha força para sugar por isso meu leite era muito pouco, o Júnior sendo menino seria mais forte e mamaria muito. Aí vêm aquelas cobranças veladas, de mãe, tia, avó e o raio que o parta: Ai esse menino vai mamar muito, ai seu seio tá tão grande, deve estar cheio de leite, nossa essa menino vai engordar bastante, que maravilha!!!
Recentemente descobri na terapia que tenho uma forte tendência em TER que atender as expectativas do outro e o pior, eu sinto como se eu não fizesse mais do que minha obrigação, é estúpido demais, mas essa expectativa do outro gerou uma ansiedade em mim e hoje eu questiono se isso não foi um grande fator a prejudicar minha amamentação, dentre tantos outros...
Passaram 15 dias do nascimento do Júnior e ele não dormia, queria ficar o tempo todo no peito, enfim, o que é absolutamente NORMAL, só que pra mim não era!!!  Eu comecei a entrar na neura de que ele não estava engordando, de que meu leite era pouco e que esse menino chorava porque estava com fome (aí vem sogra, tia, prima e até voz da vó que já morreu ecoando no seu ouvido: É FOME!!!!) ou seja, fiz as coisas por repetição, como eu tinha feito até então, e dá-lhe Nan!!!
Escrevendo essas palavras hoje fica gritante minha imaturidade, minha falta de informação, chega até ser ridículo pra mim!!!
Hoje a minha maior frustração é não ter amamentado e a CULPA, sentimento acompanhante de todas as mães (acredito eu), me segue toda vez que eu vejo minha Babi não comer nenhuma verdura ou legume, pois penso, se eu tivesse amamentado mais, ela saberia comer as coisas porque uma vez que o que a gente como vai para o leite e eu como muita verdura e legumes, logo ela comeria também. Nas quatro vezes que o Júnior ficou internado por problemas de respiração, eu pensei, ele tem isso por culpa minha, porque se eu tivesse amamentado bastante ele seria mais saudável... E por aí vai...
Então eu te respondo, porque eu sou ativista da amamentação?
Porque eu acredito que a informação e o apoio é o ponto de partida para que as mães insistam na amamentação. Hoje eu sei que existem muitos grupos de apoio na internet, muitas rodas de conversas, mas tem muita gente que não tem esse hábito, eu mesma não tinha, e além disso tem muita gente que não tem acesso o que é pior!!!
Como já disse aqui no blog, começo meu curso de doulas em setembro, acredito que o primeiro de muitos que virão a respeito da maternidade como um todo e acredito também que essa será minha porta de entrada para o ativismo de fato. Num primeiro momento não pretendo trabalhar como doula, pretendo usar o conhecimento agregado para passar informação, sonho em fazer um trabalho com gestantes falando sobre gestação, parto, alimentação e muita amamentação!!! Entre tantos outros assuntos que norteiam o mundo da maternidade...
Nesse blog aqui, a Letícia fala com maestria sobre sua experiência com a amamentação e cita algumas vantagens que vale muito a pena saber e eu não vou repetir aqui, pois quero que vocês leiam, pois o texto dela realmente está muito bom!!!
É importante que as mães saibam a importância de amamentar e os benefícios que a amamentação traz tanto pra criança quanto pra mãe, a cultura do corpo, a cultura da mulher TER que trabalhar, a cultura da “sobrevivência” e a cultura trazida ao longo dos tempos são fatores determinantes que interferem na amamentação. Eu explico:
- CULTURA DO CORPO: Já escutei amigas minhas dizendo que não vão amamentar para o seio não cair, pois a mãe e a tia não amamentaram e têm o seio durinho.
 - CULTURA DE A MULHER TER QUE TRABALHAR: Claro que não são todas as mulheres que tem a opção de não voltarem a trabalhar quando suas crias nascem, mas tem algumas que mesmo podendo não se arriscam a ficar em casa, pois a sociedade exige que a mulher trabalhe, de forma que a mulher que fica em casa para se dedicar aos filhos não tem valor! (Eu vivo na pele essa emoção!)
- CULTURA DA SOBREVIVÊNCIA: Aquelas frases do tipo: “Ai, minha mãe nem me amamentou e eu sobrevivi.” “Minha tia nem amamentou minha prima e ela ta aí ó, firme e forte, sobreviveu.” Pois é, nós queremos que nossos filhos “sobrevivam” ou vivam com qualidade”?
- CULTURA TRAZIDA AO LONGO DOS TEMPOS: É a cultura que eu senti na pele, FOME, NÃO ENGORDA, LEITE POUCO, LEITE FRACO e por aí vai.
Posso dizer que eu não amamentei, mas sou ativista da amamentação para que as mulheres não passem pelo que eu passei e tenha a informação suficiente e apoio para passar pelas dificuldades que a amamentação pode trazer!

10 comentários:

  1. Michele, querida, seu post me deu vontade de te abraçar, abraçar e abraçar mais um pouco...Sua história me lembrou momentos que vivenciei com a dor da minha cesárea seguida de fórceps...E me deu vontade de desabafar...(adoroooooooooo fazer isso! - risos) Desabafar dizendo lhe que VOCÊ AMAMENTOU SIM, mas não o tanto que desejava nem esperava. E olha essa tal de culpa pode virar perdão, mas só você quem pode fazer essa transformação. Não adianta ninguém te considerar a the must da maternidade...Isso só quem pode fazer por nós somos nós mesmas, com todas as falhas que nos pertence. Que bom saber que nasce uma doula na blogosfera e que faz parte dessa roda de discussão. Fico muito feliz e sua trajetória me ensinou que só a orientação da casa do parto não basta...Interpretei sua história com ausência de apoio entre os pediatras, mas não com os profissionais da casa do parto, certo?

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    1. Ceila, obrigada pelo carinho... Bom, o sentimento de culpa eu estou trabalhando aos poucos e já que não posso voltar no tempo e pelo jeito não vou convencer meu marido a ter outro filho(risos), então resolvi me dedicar a ajudar as mulheres a descobrirem que existem muitos caminhos e com apoio a caminhada fica mais prazerosa! O pessoal da Casa de Parto é muito atencioso, mas o atendimento se restringia ao tempo que a mulher ficava na Casa de parto, agora o sistema mudou e as duas primeiras consultas do bebê é na própria Casa de Parto, acredito que assim elas possam instruir melhor... Beijos!!!

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  2. Poxa, Michele!! Você tem que se livrar desse sentimento de culpa. Na época fez o que estava dentro das suas possibilidades e se não tinha informação, agora passou, bola pra frente. Vou te dizer uma coisa: eu fiz tudo certo e hoje o meu filho é um pré-adulto (rs*) pois está saindo da adolescência. Ele sempre fez tudo direitinho, mas agora que pode comprar a sua própria comida, diz que não gosta de legumes, verduras e frutas. Come somente besteiras e por mais que eu "pregue", ele sempre tem a mesma resposta "eu comia o que você me dava sem gostar quando eu era criança, te respeitei. Agora respeite as minhas escolhas". Sei que quando a sua saúde gritar, talvez coloque a mão na consciência. Então, acho que gostar ou não de comer qualquer coisa, nada tem a ver com a amamentação. Nossos filhos recebem influências além de nossas casas. Beijus,

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    1. É isso aí Luma, temos que pensar por esse lado tb, que a influência é além do nosso lar! Estou aos poucos trabalhando esse sentimento de culpa (risos). Beijos e obrigada pelo carinho!

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  3. MICHELE, importante vc reconhecer que poderia ter dado mais mama se tivesse mais informação, temos que enfrentar essa cultura onde o leite materno é fraco ou coisas assim, gostei do blg.

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  4. Michele, tive minha única filha com 37 anos e depois que comecei meu blog é que percebi que era uma "alienada", palavra que vc tbm usa em seu texto. Apesar de ter amamentado apenas 4 meses tenho esse período como o melhor do mundo e sinto muitíssimo que histórias como a nossa (pq a minha tbm nao foi nada fácil) se repitam com tanta frequência. Acho que ações como esta servem para ajudar as coisas a mudarem. E seja bem-vinda a blogosfera materna :-)

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    1. Obrigada pelo carinho Patrícia... Ultimamente o que mais digo quando vejo alguém grávida é isso, se informe!!! Mando todos os links dos blogs que acompanho e falo, fuça bastante porque como disse a Camila Goytacaz no blog Mamíferas, nós mulheres trazemos da ancestralidade a sabedoria feminina que nos faz procurar, apoiar e aconchegar umas as outras, aí é a história de uma que complementa a história da outra, é o papo de uma que dá uma ideia pra outra e por aí vai! As fêmeas se ajudando, se apoiando e aprendendo juntas! Bjs!

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  5. Me sinto como você... Não consegui amamentar meu bebê pois meu seio doia muito... e até hj sou frustrada pois sei que deveria ter tentado mais, e carrego dentro de mim a culpa e está muito dificil me libertar disso, principalmente qdo me perguntam se "ele mama em vc"? E tenho que responder que não e ver a cara de incredula das pessoas, principalmente qdo ele era mais novo, acho que preciso de ajuda, pois tá muito dificil, ele já tem 8 meses e carrego esse aperto dentro de mim até hj... Abraço

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    1. Como me disse uma amiga uma vez: vem cá, senta no meu sofá sujo de canetinha e vamos conversar, rsss...
      Ser mãe é assim mesmo, a gente passa muito tempo se culpando do que poderíamos ter feito ou deixado de fazer, aprendi com todo esse processo de não ter conseguido amamentar, entre outros processos que passei também, que é mais válido transformarmos essa culpa em responsabilidade, afinal, não podemos voltar no tempo não é mesmo? Sinta tudo o que tem que sentir a esse respeito, como eu sempre digo, encare o seu sofrimento de frente, pergunte-se o porquê e vá bem fundo nisso tudo, depois vc respira fundo e tenta dar o melhor de vc daqui pra frente, usando o que passou como aprendizado. Eu sei que não é fácil, ainda hoje me pego chorando por não ter amamentado, sabe aqueles momentos críticos, que vc lê um texto a respeito ou vê alguém amamentando? Então, se for um dia que eu estiver muito sensível eu dano a chorar, rsss... Mas depois passa, porque agora eu tenho consciência que eu dei o melhor de mim naquele momento, era o que eu sabia fazer e acredito que acontece o mesmo com vc, era o que vc sabia fazer, com certeza era o seu melhor!!! Se houver possibilidade de vc ter outro filho, una-se a outras mães, converse pela internet, participe de encontros, leia bastante, é incrível o poder que temos quando estamos juntas!!! Muita luz pra vc!!!

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